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Do calor às chuvas, mudanças climáticas tornam romarias ainda mais desafiadoras
por Pedro Mathey

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Romeiros andando a beira da estrada - Foto: portal A12

Todos os anos o Santuário Nacional em Aparecida, interior de São Paulo, atrai milhões de fiéis que tem, na imagem de Nossa Senhora, encontrada no rio Paraíba do Sul no século XVIII, um símbolo de esperança e misericórdia. Em 2023, segundo dados da própria Basílica, 8,8 milhões de fiéis visitaram a imagem, sendo 330 mil apenas entre os dias 3 e 12 de outubro, data em que se celebra o dia da Padroeira do Brasil.

O local também é destino de tradicionais peregrinações a pé, as chamadas romarias. Neste ano, 36.982 peregrinos chegaram dessa forma ao Santuário na semana do feriado de Nossa Senhora, segundo dados da PRF (Polícia Rodoviária Federal). A administração do Santuário destacou que  139.821 devotos visitaram o templo somente no 12 de outubro deste ano, número que representa alta de 24,6% em relação ao dia em 2023.

O caminho até Aparecida, no entanto, é desafiador para quem vai a pé. Durante a caminhada pelo interior de São Paulo, os peregrinos lidam com cansaço, dores no corpo, trânsito de veículos nas estradas e, também, situações naturais do clima. Este último elemento tem se tornado um dos maiores desafios dos romeiros nos últimos anos, pois o planeta vem sofrendo consequências das mudanças climáticas.

Para Valdemar Monte Neto, empresário de 42 anos e líder de um grupo de romeiros de Atibaia, também em São Paulo, a maior dificuldade enfrentada este ano foi a chuva. “Muita chuva que pegamos descendo a serra, o caminho de trilha que a gente faz. Foi bem complicado, bem difícil mesmo”, relembra. Valdemar ainda afirma que o clima tem atrapalhado muito os romeiros. “Sem sombra de dúvida, infelizmente. Não sou político, mas eu não tenho dúvida, quanto menos cuidar da natureza, mais ela vai nos mostrar que, infelizmente, precisamos cuidar”, ressalta o romeiro.

 

Mas afinal, o que são as Mudanças Climáticas?

Segundo o Ademir Fernando Morelli, professor da Unitau (Universidade de Taubaté) e doutor em Geociências e Meio Ambiente, as mudanças climáticas são “alterações a longo prazo no sistema climático mundial decorrentes das ações humanas”. Essas ações modificam toda a dinâmica atmosférica, como temperaturas, regimes de chuvas e outros fenômenos.

 

Segundo Morelli, a consequência mais sentida pela população causada pelas mudanças no clima é as alterações no regime de chuvas, que passaram “a ser mais espaçadas e concentradas”. Na prática, isto significa que acontecem períodos intensos de seca e de chuvas ou até tempestades.

Os romeiros que andam agora pelas estradas podem enfrentar chuvas intensas, ventos fortes e até tempestades, segundo boletins do clima recentes do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) para essa época do ano. Porém, no início de outubro, quando a Basílica recebe o maior número de visitantes, o Brasil passava pela maior seca registrada nos últimos 70 anos, segundo o  Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).

A seca tem como resultado o calor extremo e a baixa umidade do ar. De acordo com Morelli, sob estas condições, a romaria se torna uma atividade ainda mais adversa. “Até pessoas treinadas, que estão condicionadas a fazer longas caminhadas, vão ter problemas”, diz. O professor recomenda aos romeiros que, nestas condições, não caminhem nas horas de maior calor e se hidratem constantemente. Estas recomendações estão conforme as orientações do Inmet e da Defesa Civil, que orientam também a hidratação constante e proteção do sol, além de evitar a prática de atividade física ao ar livre nos horários mais quentes do dia e o uso de soro nos olhos e nariz.

Morelli também cita a importância de se “criar caminhos alternativos”, recomendando que os romeiros evitem rodovias de grande movimento, como a rodovia Presidente Dutra, pela constante exposição ao sol e a inalação de poluentes, que tendem a agravar os problemas causados pelo calor intenso. O professor aconselha que os peregrinos optem por estradas menores e que sejam arborizadas.

Confira a entrevista na íntegra

Entrevista Completa - Professor Morelli
00:00 / 44:02

© 2024 por alunos de Jornalismo do 4º semestre da Universidade de Taubaté. Direitos Reservados.

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